segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um livro que eu li - Stephen Vizinczey - Verdade e mentira na literatura

Acabei hoje de ler Truth and Lies in Literature (Verdade e Mentira na Literatura), de Stephen Vizinczey. Li na tradução portuguesa, de Maria José Marques Figueiredo. O livro é de 1986, e a tradução de 1992, numa edição da Editorial Presença - Biblioteca de Textos Universitários. A introdução é de Christopher Sinclair-Stevenson, que Vizinczey refere nos Agradecimentos (vêm logo ao princípio do livro) como seu director e editor, e que seleccionou e ordenou o material para este livro. Este tem 258 páginas, incluindo o índice. O exemplar que li é da Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, cota VZN 82.09.

Gostei muito. Julgo que posso classificar este livro como de crítica literária. Ou sobre teoria da literatura. Agrupa uma série de escritos do autor analisando livros sobre autores famosos. Mas começa com um prólogo de que consta Os Dez Mandamentos de um Escritor, publicado no Writer's Monthly, em Julho de 1985. O resto do livro está dividido em cinco partes: 1) França, 2) Alemanha, 3) Sexo, Sociedade, Política, 4) Rússia, 5) O Que Mais Importa. Termina com uma nota sobre o autor.

A parte sobre a França agrupa doze artigos, que a seguir indico, com o título e a data onde foram publicados:

1 - A Razão por que a Literatura Inglesa não é suficiente. The Sunday Telegraph, 14 de Agosto de 1977. A propósito da publicação pela Penguin de La Peau de Chagrin e de Contos Escolhidos, de Balzac, chama a atenção para a importância do estudo de outras literaturas que não a inglesa.

2 - Humilhando Rousseau. The Sunday Telegraph, 18 de Janeiro de 1976. A propósito da publicação do livro The Making of a Saint: the Tragi-Comedy of Jean-Jacques Rousseau, J. H. Huizinga (Hamish Hamilton).

3 - Um dos Muito Poucos. The Times, 11 de Maio de 1968. Trata-se de um ensaio sobre Stendhal, na minha opinião estupendo.

4 - O Archote de Génio de Stendhal. Stendhal: The Education of a Novelist, por Geoffrey Strickland (Cambridge). The Sunday Telegraph, 18 de Agosto de 1974.

5 - A Obra-prima inacabada. Lucien Leuwen, de Stendhal. Traduzido por H. L. R. Edwards. Apresentação de Geoffrey Strickland, The Boydell Press, 642 p.

(continua)


sábado, 23 de outubro de 2010

Alain de Botton - dois livros que eu li

Concluí há dias a leitura de How Proust can change your life. O mês passado li The Consolations of Philosophy. Gostei bastante de ambos. Li os dois em traduções portuguesas editadas pela Dom Quixote. Alain de Botton é um filósofo que procura praticar a filosofia de todos os dias.

O primeiro foi editado no original em 1997, e a tradução data de 2009. Esta foi da responsabilidade de Sónia Oliveira, e não me pareceu má. Mas há um aspecto que me parece importante. O livro contém várias transcrições de Proust e de outros autores, como por exemplo de John Ruskin, e não há indicação das obras de onde foram tiradas. Custa-me a crer que no original não existissem essas indicações. De qualquer modo Alain de Botton consegue dar-nos facetas humanas de Proust muito vivas, com observações muito interessantes sobre a produção de obras de arte, nomeadamente, claro, de obras literárias. O exemplar que li pertence à Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira.

O segundo foi editado no original em 2000, e a primeira edição da tradução data de 2001. Li a quarta edição, que data de 2008. O exemplar que li é meu. A tradução é da responsabilidade de Joaquim N. Gil, com revisão técnica de Maria Olga Afonso dos Reis. Pareceu-me bem feita, em geral.  Há notas ao fim, índice remissivo e outras indicações interessantes. Nas transcrições de Montaigne falhou referir os números do volume, do ensaio e da página. É um livro de grande interesse. Aborda a vida e obra de Sócrates, Epicuro, Séneca, Montaigne, Schopenhauer e Nietzche, procurando mostrar as suas facetas humanas, o valor das suas obras, e mostrar a utilidade destas para a vida de todos os dias. 

Em ambos os livros, Alain de Botton atinge o objectivo de aproximar de nós, público em geral, matérias de elevado interesse intelectual. Usem o link acima para contactar o seu site e saber mais detalhes sobre a sua pessoa e o seu trabalho. 

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Raul Brandão - Luz e Cor

Luz e Cor

(De Os Pescadores, de Raul Brandão)


O mar às vezes parece um véu diáfano, outras pó verde. Às vezes é dum azul transparente, outras cobalto. Ou não tem consistência e é céu, ou é confusão e cólera. De manhã desvanece-se, de tarde sonha. E há dias de nevoeiro em que ele é extraordinário, quando a névoa espessa pouco a pouco se adelgaça e surge atrás da última cortina vaporosa, todo verde, dum verde que apetece respirar. Diferentes verdes bóiam na água, esbranquiçados, transparentes, escuros, quase negros, misturados com restos de onda que se desfaz e redemoinha até longe. E ainda outros azulados, com a cor das podridões. Tudo isto graduado e dependendo do céu, da hora e das marés. Há momentos em que me julgo metido dentro de uma esmeralda, e, depois, numa jóia esplêndida, dum azul único que se incendeia. Mas a luz morre, e a luz agonizando exala-se como um perfume. É uma grande flor que desfalece. O doirado não é simplesmente doirado, nem o verde simplesmente  verde: possuem um alma delicada e extática.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Arte Poética - catacrese

Com este título apresentei um texto no Estrolábio no dia 6 de Setembro de 2010. Vejam se gostam, em estrolabio.blogspot.com/2010/09/arte-poetica- catacrese.html.

Lembro-me do José Torres

Com este título apresentei no Estrolábio, no dia 4 de Setembro de 2010, um post. Julgo que não me saí muito mal. Vejam: estrolabio.blogspot.com/2010/09/lembro-me-do-jose-torres.html.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um filme que eu vi - O Segredo dos seus Olhos

Fui ao cinema, ao agora chamado Medeia King (antes era só King). Vi El Secreto de sus Ojos (O segredo dos seus Olhos). Gostei imenso. O filme ganhou este ano o Óscar do melhor filme estrangeiro. É um filme policial, muito bem arrancado. A tensão romântica é grande, e a parte técnica está boa, tanto quanto consigo avaliar. Escrevi um texto para o Estrolábio: http://estrolabio.blogspot.com/2010/08/o-segredo-dos-seus-olhos-de-juan-jose.html. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Poesia - A Vamp



Era uma vez, sozinho, numa noite
Escura, cerrada, sem luar
Daquelas em que não há quem se afoite
A sair à rua, nem para ver o mar

Na varanda a fumar um cigarro
Cosido à parede, bem abrigado
Ao ver passar, lentamente, um carro
Ao volante uma vamp com ar chateado

Pensei que talvez procurasse alguém
Desci a minha escada a correr
E disse-lhe que procurava eu também

Deu uma gargalhada e respondeu
Que até preferia já ali morrer
Do que aturar um teso como eu


Ver Estrolábio, 23 de Agosto de 2010, http://estrolabio.blogspot.com/2010/08/joao-machado-e-vamp-no-espaco-verbarte.html 

sábado, 21 de agosto de 2010

Uma rápida incursão em Madrid

A Helena Maria e eu estivemos em Madrid de 18 a 21 de Julho passado. Fomos participar numa reunião do projecto Eurostar, no qual participa a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson - APDPk, associação de que a Helena Maria é Presidente da Direcção. E fizemos algum turismo cultural e não só. Tinha estado em Madrid há já cinquenta anos. Gostei imenso.

Viajámos de comboio, no Lusitânia. Essa parte foi pouco agradável, pois fomos na carruagem cama, e não dormi quase nada. Mas entretanto escrevi para o blogue Estrolábio um texto resumindo os aspectos mais notáveis (pelo menos para mim) da nossa deslocação. Vejam em http://estrolabio.blogspot.com/2010/08/uma-rapida-incursao-em-madrid.html.

sábado, 14 de agosto de 2010

A Peste, de Camus

Li A Peste, de Albert Camus. Trata-se de um livro notável, digo-o aqui apenas para enfatizar, porque é muito conhecido, mas talvez menos lido. Elaborei um texto curto sobre o livro e o autor, que enviei para o blogue Estrolábio, onde saiu ontem, dia 13 de Agosto de 2010 (http://estrolabio.blogspot.com/2010/08/um-livro-que-eu-li-peste-de-albert.html). A minha leitura foi na Collection Folio, da Gallimard, numa edição de 1972, com 309 páginas.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Maquiavel - La Mandragola

Li La Mandragola, na tradução portuguesa de Carmen González, publicada em 1970 pela Editorial Estampa (colecção Clássicos de Bolso). Tem uma interessante introdução feita pelo então Adido Cultural da Embaixada de Itália em Lisboa, Riccardo Averini, que sublinha a vitalidade e universalidade desta comédia, que ainda hoje é perfeitamente representável. Cita Macaulay, que achava que Maquiavel se tivesse dedicado exclusivamente ao teatro, teria sido um dos maiores dramaturgos de todos os tempos.E termina referindo que os grandes escritores portugueses do século XIX se interessaram por Maquiavel, e mostraram uma grande compreensão pela sua obra.

Capa da edição portuguesa de 1970  
 Editorial Estampa

La Mandragola foi publicada em 1518. Terá sido escrita cerca de 1512, quando Maquiavel preparava De principatibus (nome original de O Príncipe). Trata-se de uma comédia de costumes, sobre um jovem que procura seduzir uma jovem, história que talvez fosse banal se esta não estivesse casada com um velho rico e tonto. Praticando uma série de vilanias, e com o apoio de gente pouco recomendável, os jovens vencem as barreiras que os separam. Melhor dito: o jovem consegue o seu intuito, com o consentimento da jovem. Maquiavel faz uma crítica cerrada à sociedade em que vive, começando pelos casamentos por interesse e pela condição feminina (desculpem, mas está bem claro que Maquiavel não concorda com o tratamento das mulheres como mercadoria), continuando pela venalidade dos costumes e acabando na ignorância generalizada.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

El Sol de Breda

El Sol de Breda. Acabei de ler este livro de Arturo Pérez-Reverte. Enviei nota para o blogue Estrolábio, pedindo ao meu amigo Carlos Loures que a editasse. Ficou com o endereço seguinte:

http://estrolabio.blogspot.com/2010/05/el-sol-de-breda-um-livro-que-eu-li.html.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Filosofia de Kant, por Émile Boutroux

Acabei de ler ontem o livro acima. Trata-se de um conjunto de escritos do filósofo francês (e historiador da filosofia) Émile Boutroux (1845-1921), sobre a vida e obra de Emmanuel Kant (1724-1804), publicados em 1926, postumamente. 

A tradução portuguesa, da responsabilidade de Álvaro Ribeiro, é de fraca qualidade.  O título é Kant, simplesmente. Foi editada pela Editorial Inquérito Limitada (lê-se na ficha técnica que o editor foi Francisco Lyon de Castro), na  colecção Cadernos Culturais, com o número 77. O número da edição era o 18 077/0023. Corresponderá ao ano de 1977? 

Os escritos que integram o livro, e correspondem cada um a um capítulo, foram claramente escritos em alturas diversas. O último, o VI, intitulado Influência de Kant, terá sido escrito para a Grande Enciclopédia (francesa, claro) em 1895. Apesar das deficiências da tradução, e da pouco cuidada revisão do texto, julgo que uma leitura atenta consegue dar-nos uma ideia da importância da obra de Kant, nomeadamente no que respeita às relações entre a moral e a ciência, e também sobre o que é  a metafísica, começando pela compreensão do que esta realmente é, e qual o seu papel.

Os capítulos são seis (para além de uma curta introdução, sobre a filosofia de Kant, e o seu papel na filosofia em geral, e na filosofia alemã em particular), com os títulos seguintes:

I - Biografia
II - O período antecrítico
III - A crítica
IV - A doutrina metafísica
V - As aplicações da doutrina metafísica
VI - Influência de Kant

O exemplar que li pertence à Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira. A cota é BRT* 14 Kant.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Leitura - Um parágrafo de Camus

Tenho estado a ler La Peste. Encontrei o trecho seguinte, um parágrafo da segunda parte do livro, de que vos proponho a leitura. Mantenho-o em francês. Estamos numa cidade em quarentena devido à peste, isolada do resto do mundo, não se sabe por quanto tempo.

"Dans ces extremités de la solitude, enfin, personne ne pouvait espérer l'aide du voisin et chacun restait seul avec sa préoccupation. Si l'un d'entre nous, par hasard, essayait de se confier ou de dire quelque chose de son sentiment, la réponse qu'il recevait, quelle qu'elle fût, le blessaient la plupart du temps. Il s'apercevait alors que son interlocuteur et lui ne parlaient pas de la même chose. Lui, en effet, s'exprimait du fond de longues journées de rumination et de souffrances et l'image qu'il voulait communiquer avait cuit longtemps au feu de l'attente et de la passion. L'autre, au contraire, imaginait une émotion conventionelle, la douleur qu'on vend sur les marchés, une mélancolie de série. Bienveillante ou hostile, la réponse tombait toujours à faux, il fallait y renoncer. Ou du moins, pour ceux à qui le silence était insupportable, et puisque les autres ne pouvaient trouver le vrai langage du coeur, ils se résignaient à adopter la langue des marchés et à parler, eux aussi, sur le mode conventionnel, celui de la simple relation et du fait divers, de la chronique quotidienne en quelque sorte. encore, les douleurs les plus vraies prirent l'habitude de se traduire dans les formules banales de la conversation. C'est à ce prix seulement que les prisonniers de la peste pouvaient obtenir la compassion de leur concierge ou l'intéret de leurs auditeurs." 

Li este trecho na edição da Gallimard, Collection Folio, impressa em 1972. La Peste, como sabem, saiu à estampa pela primeira vez em 1947. Albert Camus nasceu na Argélia em 1913 e morreu em 1960 num desastre de automóvel . Foi jornalista, dramaturgo, romancista, ensaísta e filósofo. Prémio Nobel da Literatura em 1957.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O triunfo da corrupção - um comentário a Vasco Pulido Valente

No Público de 12 de Março de 2010, na coluna Opinião, Vasco Pulido Valente (VPV) diz-nos que "os portugueses toleram (ou, mais precisamente, aprovam) a corrupção". Remata o seu texto informando-nos que "Não é agora altura de mudar os costumes".

Obviamente que isto é o que VPV pensa. Melhor, é o que VPV deseja. A corrupção, como toda a gente sabe, tem origem nas grandes diferenças sociais, e resulta basicamente do desejo das camadas privilegiadas de continuarem a ser privilegiadas. Quem não tem privilégios, e deseja a eles aceder, tem de violar as regras e recorrer a tratamentos de favor. Tem de procurar que algum privilegiado lhe dê uma ajuda, em troco sabe-se lá do quê. A não ser que algum familiar, ou amigo do peito, resolva ajudar graciosamente, de boa vontade, sem pedir retribuição. Portugal continua a ter grandes diferenças sociais. Os privilegiados querem continuar a ser privilegiados. VPV acha muito bem. Eu não. Será isto o direito à diferença?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Du ein Dichter? Du ein Dichter?
Stehts mit deinem Kopf so schlecht?
- "Ja, mein Herr, Sie sind ein Dichter"
Achselzuckt der Vogel Specht.

De Poemas, organização de Paulo Quintela
Centelha, Coimbra, 1981