quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Filosofia de Kant, por Émile Boutroux

Acabei de ler ontem o livro acima. Trata-se de um conjunto de escritos do filósofo francês (e historiador da filosofia) Émile Boutroux (1845-1921), sobre a vida e obra de Emmanuel Kant (1724-1804), publicados em 1926, postumamente. 

A tradução portuguesa, da responsabilidade de Álvaro Ribeiro, é de fraca qualidade.  O título é Kant, simplesmente. Foi editada pela Editorial Inquérito Limitada (lê-se na ficha técnica que o editor foi Francisco Lyon de Castro), na  colecção Cadernos Culturais, com o número 77. O número da edição era o 18 077/0023. Corresponderá ao ano de 1977? 

Os escritos que integram o livro, e correspondem cada um a um capítulo, foram claramente escritos em alturas diversas. O último, o VI, intitulado Influência de Kant, terá sido escrito para a Grande Enciclopédia (francesa, claro) em 1895. Apesar das deficiências da tradução, e da pouco cuidada revisão do texto, julgo que uma leitura atenta consegue dar-nos uma ideia da importância da obra de Kant, nomeadamente no que respeita às relações entre a moral e a ciência, e também sobre o que é  a metafísica, começando pela compreensão do que esta realmente é, e qual o seu papel.

Os capítulos são seis (para além de uma curta introdução, sobre a filosofia de Kant, e o seu papel na filosofia em geral, e na filosofia alemã em particular), com os títulos seguintes:

I - Biografia
II - O período antecrítico
III - A crítica
IV - A doutrina metafísica
V - As aplicações da doutrina metafísica
VI - Influência de Kant

O exemplar que li pertence à Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira. A cota é BRT* 14 Kant.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Leitura - Um parágrafo de Camus

Tenho estado a ler La Peste. Encontrei o trecho seguinte, um parágrafo da segunda parte do livro, de que vos proponho a leitura. Mantenho-o em francês. Estamos numa cidade em quarentena devido à peste, isolada do resto do mundo, não se sabe por quanto tempo.

"Dans ces extremités de la solitude, enfin, personne ne pouvait espérer l'aide du voisin et chacun restait seul avec sa préoccupation. Si l'un d'entre nous, par hasard, essayait de se confier ou de dire quelque chose de son sentiment, la réponse qu'il recevait, quelle qu'elle fût, le blessaient la plupart du temps. Il s'apercevait alors que son interlocuteur et lui ne parlaient pas de la même chose. Lui, en effet, s'exprimait du fond de longues journées de rumination et de souffrances et l'image qu'il voulait communiquer avait cuit longtemps au feu de l'attente et de la passion. L'autre, au contraire, imaginait une émotion conventionelle, la douleur qu'on vend sur les marchés, une mélancolie de série. Bienveillante ou hostile, la réponse tombait toujours à faux, il fallait y renoncer. Ou du moins, pour ceux à qui le silence était insupportable, et puisque les autres ne pouvaient trouver le vrai langage du coeur, ils se résignaient à adopter la langue des marchés et à parler, eux aussi, sur le mode conventionnel, celui de la simple relation et du fait divers, de la chronique quotidienne en quelque sorte. encore, les douleurs les plus vraies prirent l'habitude de se traduire dans les formules banales de la conversation. C'est à ce prix seulement que les prisonniers de la peste pouvaient obtenir la compassion de leur concierge ou l'intéret de leurs auditeurs." 

Li este trecho na edição da Gallimard, Collection Folio, impressa em 1972. La Peste, como sabem, saiu à estampa pela primeira vez em 1947. Albert Camus nasceu na Argélia em 1913 e morreu em 1960 num desastre de automóvel . Foi jornalista, dramaturgo, romancista, ensaísta e filósofo. Prémio Nobel da Literatura em 1957.