Saiu no Guardian de 1 de Novembro último um texto de Timothy Garton Ash (TGA) intitulado Facing disaster in Iran, Europe must finally make the hard choices. Apareceu traduzido no El País do dia 4. Neste escrito TGA pressiona fortemente os países europeus para que incitem os EUA e o Irão a terem conversações bilaterais e desencadeiem sanções económicas fortes contra o Irão, afirmando ser imperativo que o façam para evitarem dois perigos. O primeiro, de que Georges Bush bombardeie o Irão antes de abandonar a Casa Branca em 2008. O segundo, de que o Irão daqui a uns anos tenha a bomba nuclear. Aproveita de passagem para dar bicadas nos intelectuais pacifistas e anti-nucleares, perguntando onde estão agora, e porque não se manifestam contra a bomba nas mãos dos iranianos. Admite ser um problema que Israel, a Índia e o Paquistão já tenham a bomba, mas é de opinião que já não se pode fazer nada a esse respeito.
Penso que TGA está sobretudo à procura de mostrar serviço aos chefes do Ocidente, que se agrupam na NATO, e procuram manter a todo o transe a superioridade militar nas mãos dos EUA. Implicitamente admite que o Irão mesmo que esteja a tentar obter a bomba, só a terá dentro de anos. Não vê (será que não vê mesmo?) que o Paquistão, país bastante instável, pode deixar cair as armas nucleares em mãos bastante perigosas. E não admite (embora esteja farto de o saber) que o maior perigo para a paz no Médio Oriente ( e com certeza, no Mundo) é o expansionismo israelita, o qual se por enquanto se limita a ir lentamente massacrando os palestinianos, para depois anexar definitivamente os territórios que estes ainda ocupam, mais tarde vai estender as suas ambições à Jordânia, ao Sinai e provavelmente ao Sul do Líbano.
TGA sabe também que as conversações entre o Irão e os EUA, a acontecerem, nunca terão resultados palpáveis, a não ser que o Irão aceitasse ser totalmente tutelado pelos americanos. Estes querem dominar totalmente a produção de petróleo no mundo, razão pela qual foram fazer a guerra no Iraque. Mais tarde ou mais cedo atacarão o Irão. Isso faz parte da estratégia que vêm desenvolvendo praticamente desde a Segunda Guerra Mundial, umas vezes mais claramente, outras vezes menos. Os atentados do 11 de Setembro de 2001 deram-lhes o pretexto para o fazerem mais às claras. Os governantes que sucederem a Bush vão seguir essa política ("a guerra é a política por outros meios"). Claro que invocam boas intenções (combate ao terrorismo, difusão dos valores democráticas, etc. ) . Não se apercebem de que vão perder esta guerra, e vão-nos arrastar para o desatre. A derrota pode ser só daqui a cinquenta ou cem anos, mas vai acontecer. Despertaram um ódio generalizado por todo o mundo árabe e não só. No Paquistão apoiam um ditador como Musharraf, que vai esmagar os elementos mais progressistas da sociedade (e não os taliban, ao contrário do que os néscios pensam) para continuar no poder. No passado, no Irão derrubaram Mossadegh, puseram o Xá no trono e prepararam o terreno para os ayatollahs.
Entretanto, as sanções económicas que a Europa vai impor ao Irão vão servir para enfraquecer este país e facilitar a aventura americana. Mesmo que a China e a Rússia substituam os europeus ser-lhes-á difícil evitar um considerável enfraquecimento militar do país, necessário para a destruição dos alvos estratégicos seja feita com um desgaste reduzido. A guerra vai começar, vaticino, com um ataque israelita a algum alvo considerado fulcral (alguma coisa que possa passar por central nuclear). O Irão vai replicar e então os EUA avançam. O lóbi do petróleo e as indústrias de armamento rejubilarão. E TGA e outros opinion makers escreverão mais uns artigos comentando a posição da Europa.
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