Ontem à noite (sábado, dia 29, para domingo, dia 30) vi na RTP 2, Monsieur Verdoux. Trata-se de um filme de Charlie Chaplin, realizado em 1947. O argumento original era de Orson Wells, depois Chaplin adquiriu-o e adaptou-o. A história inspira-se na vida do criminoso francês Landru, serial killer executado em 1922, acusado do assassinato de onze pessoas. Parece que este se dedicava a seduzir e matar mulheres sós, para as roubar. Usava o produto do roubo para sustentar a sua família, mulher e quatro filhos.
Chaplin procura integrar o criminoso no ambiente da época, de grande crise económica, em que as pessoas eram obrigadas para viverem a lançar mão de toda a espécie de recursos, muitas vezes à margem da moral e das leis. A concorrência feroz, a falta de escrúpulos na política e nos negócios, a coexistência de um luxo chocante e de uma pobreza crudelíssima e sem esperança, levam Mr. Verdoux, bancário lançado no desemprego e no desespero ao fim de 37 anos de trabalho, a procurar no roubo e no assassínio o sustento da mulher inválida e do filho pequeno.
Do que conheço da obra de Chaplin este filme constitue talvez o que melhor traduz o seu pensamento sobre a sociedade contemporânea. Pessoalmente sempre tive dificuldade em apreciar Chaplin, talvez porque sempre o achei de uma tristeza espantosa. Nunca consegui rir com os seus filmes, sem dúvida que por deficiência minha. Mas em Monsieur Verdoux encontrei uma explicação: as graças, os finais felizes que constantemente se encontram nos outros filmes, destinaram-se a amenizar uma visão profunda (e julgo que correcta) do que é a vida na sociedade moderna. A ferocidade do comportamento do personagem, os gagues utilizados para satirizar os vários tipos sociais, caricaturizam os valores dominantes, que a hipocrisia oficial mascara muito mal. Julgo tratar-se efectivamente do auge da obra de Chaplin, e que é este filme que está na origem de ter de se exilar de Hollywood e dos EUA.