sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Hábitos saudáveis
Também no El País de 24 de Outubro, pág. 42, vem um artigo que faz a comparação entre os hábitos de vida saudável em vários países europeus. Põe Portugal bem à frente da Espanha. Na Europa dos 15 fica apenas atrás da Suécia. Quem diria?
Aprovado um plano para salvar Daimiel e o Guadiana
Do El País de 24 de Outubro, traduzo um artigo de M. R. S., Madrid, com a devida vénia (pág. 42). Parece-me um assunto extremamente importante. Veja-se o que ficou dito há dias sobre o Alqueva. Apesar da distância a que Daimiel fica da fronteira portuguesa há que ter muita atenção com esta situação. Assim, traduzo:
A seca e a sobreexploração de que sofre a zona do Guadiana pode terminar. O Governo e a Junta de Castela-Mancha aprovaram ontem um plano de 3.000 milhões de euros para recuperar o aquífero, muito afectado pelos anos de cultivo intensivo de milho e outras explorações.
O Plano Especial do Alto Guadiana tratará de recuperar, entre outros alvos, o Parque Nacional das Mesas de Daimiel, que se mantem artificialmente com água do Tejo e com a extraída por bombas do subsolo. Para isso pretende-se reordenar os usos dados à água do Guadiana.
A ministra do Meio Ambiente, Cristina Narbona, anunciou ontem que se vão comprar direitos de água para melhorar a situação do aquífero pelo valor de 40 milhões de euros. Uma acção que permitiria "a manutenção das actividades agrárias sustentáveis". A ministra assegurou que, no fim da legislatura, serão compradas mais de 900.000 hectares que contribuirão para a recuperação das Mesas de Daimiel. Para além do parque, beneficiarão com este plano 169 municípios (569.535 habitantes), segundo a Junta.
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Ecologia e Ambiente
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Referendo ao Tratado Europeu
Com a devida vénia, transcrevo do Jornal de Notícias o que escreve (mais uma vez, muito bem, com brilhante ironia) Manuel António Pina, sobre o referendo ao Tratado Europeu.
Queres referendo?Ora toma
Por outras, palavras, Manuel, António, Pina
Queres referendo?Ora toma
Por outras, palavras, Manuel, António, Pina
Adepto do sensato cepticismo atribuído ao ex-capitão do F. C. do Porto, João Pinto, aquele do "prognósticos só no fim", eu não teria no entanto dúvidas a preencher o boletim do totobola do referendo ao Tratado Europeu punha 1 de caras, ou seja, estou certo (tanto quanto se pode estar certo de qualquer coisa) de que não haverá referendo e de que será a AR a assiná-lo de cruz. Dir-me-ão que Sócrates, na campanha de 2005, nos garantiu que haveria, que repetiu o mesmo já este ano (como que por acaso no dia 25 de Abril), que CDS, PCP, BE e o presidente da República o disseram também, que o PSD ainda há um mês o dizia. Só que, depois destes anos todos, já sabemos quando os políticos mentem: é quando estão a mexer os lábios. Não gastaria, por isso, cera com tal defunto não fosse o argumento de Vital Moreira, porta-voz oficioso do Governo, contra o referendo: o Tratado é complicado de mais para a mente simples do "cidadão comum", se o "cidadão comum" tentar lê-lo não passa da segunda página. Acha Vital Moreira que os "cidadãos incomuns" que se sentam na AR lerão o Tratado de fio e pavio e só o votarão depois de o compreenderem. Ora só quem não conhece o espírito crítico e a independência e craveira intelectuais que vão pela AR é que não lhe dará razão.
É claro. Quem viu Vital Moreira ...
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Tratado Europeu
terça-feira, 23 de outubro de 2007
A barragem do Alqueva
Este comunicado de Imprensa da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) parece-me extremamente importante. Que vamos fazer com este assunto? Se a LPN tem razão, mesmo que só em parte, estamos perante um grave problema. Vamos ler:
COMUNICADO DE IMPRENSA
PRÉMIO À BARRAGEM DO ALQUEVA É LAMENTÁVEL
A Liga para a Protecção da Natureza lamenta a atribuição de um prémio à barragem
do Alqueva*, o empreendimento com mais impactes negativos na região do Alentejo.
Como é possível premiar este empreendimento?????
Quando teve enormes derrapagens nos custos orçamentados, em
consequência de se localizar sobre uma importante falha tectónica!
Quando apresenta uma flagrante ineficiência económica e energética, função
do dispêndio de energia necessário ao regadio previsto para a região, numa
altura em que a promoção da eficiência energética é um imperativo!
Assumindo que se trata de uma obra "integrada harmonicamente na paisagem"
quando implicou a perda irreversível de inúmero património arqueológico,
característico da paisagem alentejana, resultando exactamente no contrário do
que foi afirmado quanto à “contribuição do projecto para a recuperação do
acervo arqueológico da região”!
Quando a comunidade científica espanhola considera o Guadiana um ‘cadáver
hidrológico’ devido ao consumo excessivo de água que sofre!
Quando corre o risco de se tornar um desastre ambiental e humano à escala
do ocorrido no Mar de Aral - Ásia Central (pelo fomento não sustentado da
cultura do algodão e arroz em pleno deserto no tempo de Estaline), em
consequência da utilização de água de má qualidade, resultante do seu uso a
montante!
Quando as alterações climáticas previstas antecipam quebras futuras de cerca
de 50% no escoamento superficial hidrológico, o que se reflectirá na diminuição
proporcional da qualidade das águas superficiais, tornando empreendimentos
como o Alqueva insustentáveis!
Em suma, é lamentável!
* Prémio Internacional Puente de Alcântara, atribuído pela Fundación San Benito de Alcântara,
de Cáceres, Espanha.
Lisboa, 15 de Outubro de 2007
A Direcção Nacional
da
Liga para a Protecção da Natureza
Para mais informações:
LPN - Liga para a Protecção da Natureza
Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187, 1500-124 Lisboa
Tel: 217 780 097 217 740 155 217 740 176
Tlm: 964 656 033 918 947 553
Fax: 217 783 208
www.lpn.pt
e-mail: lpn.natureza@lpn.pt
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não
Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins
lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World
Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico
para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for
Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk).
Conservei deliberadamente todo o conteúdo da mensagem, incluindo os contactos da LPN, para quem quiser saber mais ter a vida facilitada.
COMUNICADO DE IMPRENSA
PRÉMIO À BARRAGEM DO ALQUEVA É LAMENTÁVEL
A Liga para a Protecção da Natureza lamenta a atribuição de um prémio à barragem
do Alqueva*, o empreendimento com mais impactes negativos na região do Alentejo.
Como é possível premiar este empreendimento?????
Quando teve enormes derrapagens nos custos orçamentados, em
consequência de se localizar sobre uma importante falha tectónica!
Quando apresenta uma flagrante ineficiência económica e energética, função
do dispêndio de energia necessário ao regadio previsto para a região, numa
altura em que a promoção da eficiência energética é um imperativo!
Assumindo que se trata de uma obra "integrada harmonicamente na paisagem"
quando implicou a perda irreversível de inúmero património arqueológico,
característico da paisagem alentejana, resultando exactamente no contrário do
que foi afirmado quanto à “contribuição do projecto para a recuperação do
acervo arqueológico da região”!
Quando a comunidade científica espanhola considera o Guadiana um ‘cadáver
hidrológico’ devido ao consumo excessivo de água que sofre!
Quando corre o risco de se tornar um desastre ambiental e humano à escala
do ocorrido no Mar de Aral - Ásia Central (pelo fomento não sustentado da
cultura do algodão e arroz em pleno deserto no tempo de Estaline), em
consequência da utilização de água de má qualidade, resultante do seu uso a
montante!
Quando as alterações climáticas previstas antecipam quebras futuras de cerca
de 50% no escoamento superficial hidrológico, o que se reflectirá na diminuição
proporcional da qualidade das águas superficiais, tornando empreendimentos
como o Alqueva insustentáveis!
Em suma, é lamentável!
* Prémio Internacional Puente de Alcântara, atribuído pela Fundación San Benito de Alcântara,
de Cáceres, Espanha.
Lisboa, 15 de Outubro de 2007
A Direcção Nacional
da
Liga para a Protecção da Natureza
Para mais informações:
LPN - Liga para a Protecção da Natureza
Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187, 1500-124 Lisboa
Tel: 217 780 097 217 740 155 217 740 176
Tlm: 964 656 033 918 947 553
Fax: 217 783 208
www.lpn.pt
e-mail: lpn.natureza@lpn.pt
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não
Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins
lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World
Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico
para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for
Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk).
Conservei deliberadamente todo o conteúdo da mensagem, incluindo os contactos da LPN, para quem quiser saber mais ter a vida facilitada.
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Ecologia e Ambiente
domingo, 21 de outubro de 2007
Naomi Klein
Não percebi ainda quem é Naomi Klein. Será uma filósofa? Julgo que, pelo menos, é muito mais do que uma comentadora. Tem um sítio www.naomiklein.org. E já publicou vários livros. O mais famoso talvez seja No Logo, que já tem uns anos. Agora saiu outro, The Shock Doctrine. Li no blogue Common Dreams um artigo da senhora que me parece altamente importante: Outsourcing Government, que me parece uma análise importante sobre os efeitos das actuais políticas públicas. Ela centra a análise, como é lógico, nos EUA, mas parece-me que o que ela diz é facilmente generalizável. A Naomi Klein é canadiana, ao que julgo saber.
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Filosofia
sábado, 20 de outubro de 2007
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Antero de Quental - A Um Poeta
Surge et ambula!
Tu, que dormes, espírito sereno,Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares.
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te pois, soldado do futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
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Literatura
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Eça
Leio outro livro interessantíssimo. Chama-se precisamente Eça. É da autoria de António Ramos de Almeida. Foi escrito para o centenário do nascimento de Eça de Queirós. O editor foi a Livraria Latina, do Porto. O exemplar que estou a ler pertence à Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, cota: CMD 821.134.3.09.
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Literatura
domingo, 14 de outubro de 2007
Sean O'Casey - The Plough and the Stars
Fui hoje ver esta peça ao Teatro Municipal de Almada. A produção é da Companhia de Teatro de Almada (CTA) e do Teatro dos Aloés. Encenação de Bernard Sorel, com a colaboração de Francis Seleck e assistência de Sophie Vignaux. Fomos 35, a Leninha e eu, numa iniciativa (mais uma) da Cooperativa Alves Redol.
Sean O'Casey (1880-1964) foi uma das figuras mais importantes da literatura irlandesa. Apoiante desde cedo dos movimentos nacionalistas e das tradições irlandesas, afastou-se do nacionalismo e aderiu ao socialismo cerca dos trinta anos. Exerceu durante muito tempo profissões pouco qualificadas. Escreveu em jornais, publicou versos e textos sobre a revolução irlandesa. As suas primeiras tentativas no teatro fracassaram, mas em 1923 o Abbey Theatre aceitou produzir The Shadow of a Gunman. A seguir vieram Juno and the Paycock (1924) e The Plough and the Stars (1926). Houve distúrbios no teatro quando esta última peça foi apresentada, O'Casey sofreu ataques de nacionalistas e do meio literário de Dublin, e, muito encolerizado, acabou por se exilar em Londres.
Esta peça, que fui ver hoje, The Plough and the Stars (A Charrua e as Estrelas) é iminentemente pacifista. Descreve o ambiente em Dublin durante a revolta da Páscoa de 1916, numa perspectiva anti-belicista. Tempera a apresentação do sofrimento humano com imagens satíricas, usando de uma enorme compaixão pelas fraquezas dos vários actores sociais. É muito boa, e o trabalho da CTA de grande craveira.
Sobre Sean O'Casey ver a enciclopédia Collier's e os textos da CTA.
Sean O'Casey (1880-1964) foi uma das figuras mais importantes da literatura irlandesa. Apoiante desde cedo dos movimentos nacionalistas e das tradições irlandesas, afastou-se do nacionalismo e aderiu ao socialismo cerca dos trinta anos. Exerceu durante muito tempo profissões pouco qualificadas. Escreveu em jornais, publicou versos e textos sobre a revolução irlandesa. As suas primeiras tentativas no teatro fracassaram, mas em 1923 o Abbey Theatre aceitou produzir The Shadow of a Gunman. A seguir vieram Juno and the Paycock (1924) e The Plough and the Stars (1926). Houve distúrbios no teatro quando esta última peça foi apresentada, O'Casey sofreu ataques de nacionalistas e do meio literário de Dublin, e, muito encolerizado, acabou por se exilar em Londres.
Esta peça, que fui ver hoje, The Plough and the Stars (A Charrua e as Estrelas) é iminentemente pacifista. Descreve o ambiente em Dublin durante a revolta da Páscoa de 1916, numa perspectiva anti-belicista. Tempera a apresentação do sofrimento humano com imagens satíricas, usando de uma enorme compaixão pelas fraquezas dos vários actores sociais. É muito boa, e o trabalho da CTA de grande craveira.
Sobre Sean O'Casey ver a enciclopédia Collier's e os textos da CTA.
Olavo Bilac - A Um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gémea da Verdade,
Arte Pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na sua simplicidade.
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gémea da Verdade,
Arte Pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na sua simplicidade.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
OGM - Proposta do BE no Parlamento
Julgo importante prestar atenção a este assunto:
Bloco propõe na Assembeia da República moratória sobre OGM
data: 10/10
O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República uma proposta que recomenda ao Governo uma moratória sobre o cultivo de sementes que contenham ou sejam constituídas por Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Segundo o documento, em Maio deste ano, o governo alemão baniu a venda para sementeira do Milho “Mon 810” que tinha até então autorização de cultivo na Alemanha. Ao exigir que a comercialização apenas fosse admitida se a empresa comercializadora – Monsanto – apresentasse um plano de monitorização que avaliasse o impacto no ambiente, o governo Alemão congelou de facto novas culturas OGM.
Mais recentemente, no dia 21 de Setembro deste ano, o ministro do ambiente francês declarou ao jornal “Le Monde” que não sendo possível controlar a disseminação de OGM não é admissível correr riscos e daí a sua decisão de congelar a venda de sementes OGM até à alteração da lei. A França pode vir a juntar-se à Alemanha, Polónia, Áustria e Grécia e Hungria, no conjunto dos países que baniram o cultivo de sementes transgénicas.
Em Portugal pelo contrário, o governo tem vindo a aprovar desde 2005, legislação que se encontra em contra-ciclo com as preocupações de outros parceiros europeus acima mencionadas. Mais grave do que isso, o governo português tem vindo a permitir um regime que não cumpre adequadamente com o princípio de precaução, não previne o risco de contaminação das culturas convencionais e orgânicas e não garante nem a defesa da biodiversidade nem o direito de escolha dos consumidores.
Em Portugal vigorou, até à transposição da Directiva n. 2001/18/CE, a Lei n.º 12/2002, de 16 de Fevereiro que consagrava a suspensão da «libertação deliberada no ambiente de produtos geneticamente modificados». O Decreto-Lei n.º 72/2003, com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei n.º 164/2004, transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n. 2001/18/CE. Faltava à altura regulamentar em matéria de “cláusulas de salvaguarda”, rastreio e monitorização e rotulagem.
O Decreto-Lei n.º 160/2005, de 21 de Setembro, que regulamenta o cultivo de sementes geneticamente modificadas, aprova o cultivo de todas as variedades inscritas no Catálogo Comum de Espécies Agrícolas. A regulamentação nele definida tem vindo a ser criticada em resultado das inadequações que apresenta: É imprevidente por permitir distâncias mínimas de isolamento de culturas OGM que não evitam a contaminação acidental das culturas convencionais ou orgânicas de campos vizinhos.
É falaciosa por contemplar medidas de controlo e acompanhamento só aparentemente se traduzem em controlo e acompanhamento. As medidas previstas não produzem outra avaliação que não seja a avaliação burocrática do cumprimento das regras formais, quando o que faz falta é a possibilidade de monitorizar o impacto das culturas com OGM para o ambiente. Na realidade não existem ainda, como o reconhece o Relatório A6-0032/2007 do Parlamento Europeu, quaisquer mecanismos instalados para detecção e protecção contra contaminações não previstas ou autorizadas.
É ineficaz porque não é suficientemente exaustivo na sequenciação das actividades de controlo e fiscalização ao longo de todo o processo de armazenamento, moagem e transformação de produtos derivados de culturas OGM, o que não só não previne a contaminação de outros cereais como distorce a veracidade da informação prestada aos consumidores finais.
Há por outro lado outras considerações à escala europeia que não podem deixar de ser tomadas em linha de conta:
1 - O estudo produzido pelo Eurobarómetro em 2005 demonstra que 70% dos consumidores na União Europeia têm opinião céptica em relação aos bens alimentares que contenham OGM. Este cepticismo está desde logo legitimado pelo facto de que não existe hoje uma certeza científica sobre as consequências para a saúde pública da entrada na cadeia alimentar de produtos contendo OGM.
Todo o processo de aprovação por parte da Comissão Europeia de sementes OGM é condicionado pelo parecer da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) que se tem confrontado com acusações de falta de transparência por parte de laboratórios e investigadores independentes.
Apesar de a Directiva CEE/2001/18 exigir transparência na determinação dos impactos de OGM para a saúde pública, a EFSA tem feito reserva de confidencialidade em relação a resultados laboratoriais apresentados pela entidade candidata à aprovação, o que impede a validação e comparação por parte da comunidade científica. Deste modo de actuação resulta a impossibilidade de melhorar o conhecimento sobre o resultado do consumo de OGM em alimentos e rações.
Deve notar-se que a aprovação do uso de agroquímicos como os pesticidas obriga à experimentação com pelo menos três espécies de mamíferos diferentes, ao passo que a aprovação de espécies OGM obriga à experimentação exclusivamente com uma espécie.
Isto cria um vazio científico que justifica plenamente que os governos tenham uma atitude de fazer prevalecer o princípio da precaução. Explica também a necessidade de alterar os protocolos de procedimento da EFSA de modo a conferir aos seus relatórios um maior nível de garantia científica.
2 - O Plano Estratégico Nacional para o Desenvolvimento Rural reconhece o crescimento da área agrícola dedicada ao modo de produção integrada e à agricultura biológica e apresenta como objectivo: «reforçar a coerência na política da qualidade alimentar, nomeadamente ao nível dos regimes de qualidade reconhecida. Propõe-se a criação de um sistema de qualidade nacional (regulação e apoio) assente em três pilares: Denominações de Origem; Agricultura Biológica; e Regime/modo de produção intermédio, nomeadamente a partir da produção integrada. Pretende-se assim criar condições para, de forma adequada à realidade de cada sector, promover um instrumento de desenvolvimento adicional, ao mesmo tempo que se clarificam as regras para produtores e consumidores, e ainda para a intervenção pública.»
Toda esta orientação estratégica fica posta em causa quando sabemos que entre 2005 e 2007 a área cultivada com milho geneticamente modificado mais do que quintuplicou: era de 783 há em 2005 e passou a ser de 4.129ha em 2007. Este crescimento representa uma ameaça para a estratégia acima definida uma vez que todo o investimento que os produtores de espécies e castas certificadas ou a aguardar certificação pode ser posto em risco de contaminação, particularmente quando a identificação dos agricultores aderentes à produção de variedades OGM e a localização das respectivas explorações agrícolas não é tornada do conhecimento público como exige o Decreto-Lei n.º 160/2005.
Não existe hoje ainda a possibilidade técnica de controlar a polinização cruzada no meio-ambiente. As correntes de ar, os insectos e as aves transportam os pólenes para distâncias que se estendem muito para além das distâncias de isolamento entre culturas que mesmo uma legislação mais previdente possa prever. É a impossibilidade científica e técnica de monitorizar este processo de polinização cruzada e portanto de contaminação de culturas convencionais e de culturas biológicas que resulta na proibição alemã de cultivo de OGM. É também essa a preocupação que norteia o ministro do ambiente francês. O ministro Jean-Louis Borloo declarou ao jornal Le Monde que: «Acerca dos OGM estamos todos de acordo: Não se pode controlar a disseminação, logo não se pode correr o risco.»
Na altura em que Portugal preside à União Europeia deve dar um sinal claro de ir ao encontro dos apelos que têm vindo a ser dirigidos aos Estados-membros no sentido de garantirem o direito de quem produz culturas convencionais ou biológicas não as ver contaminadas por OGM e o direito dos consumidores a garantidamente poderem optar por produtos alimentares não contaminados por OGM.
Nos termos regimentais e constitucionais, a Assembleia da República, reunida em plenário, resolve recomendar ao Governo que:
Aprove uma moratória sobre o cultivo de sementes que contenham ou sejam constituídas por organismos geneticamente modificados pelo período de três anos, findos os quais deverá ser feita uma reavaliação das garantias se segurança dos produtos alimentares deles resultantes para a saúde humana e sobre a possibilidade técnica de monitorizar e conter a polinização de culturas convencionais e biológicas por pólenes provenientes de culturas com produtos geneticamente modificados.
Já cinco países da UE suspenderam o cultivo das sementes transgénicas. Para quando informações claras sobre este assunto? O caso dos verdes eufémios trouxe uma publicidade negativa aos contestatários dos OGM (haveria realmente alguem por detrás deles? Quem?). O que é verdade é que é necessário saber mais sobre este assunto.
Bloco propõe na Assembeia da República moratória sobre OGM
data: 10/10
O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República uma proposta que recomenda ao Governo uma moratória sobre o cultivo de sementes que contenham ou sejam constituídas por Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Segundo o documento, em Maio deste ano, o governo alemão baniu a venda para sementeira do Milho “Mon 810” que tinha até então autorização de cultivo na Alemanha. Ao exigir que a comercialização apenas fosse admitida se a empresa comercializadora – Monsanto – apresentasse um plano de monitorização que avaliasse o impacto no ambiente, o governo Alemão congelou de facto novas culturas OGM.
Mais recentemente, no dia 21 de Setembro deste ano, o ministro do ambiente francês declarou ao jornal “Le Monde” que não sendo possível controlar a disseminação de OGM não é admissível correr riscos e daí a sua decisão de congelar a venda de sementes OGM até à alteração da lei. A França pode vir a juntar-se à Alemanha, Polónia, Áustria e Grécia e Hungria, no conjunto dos países que baniram o cultivo de sementes transgénicas.
Em Portugal pelo contrário, o governo tem vindo a aprovar desde 2005, legislação que se encontra em contra-ciclo com as preocupações de outros parceiros europeus acima mencionadas. Mais grave do que isso, o governo português tem vindo a permitir um regime que não cumpre adequadamente com o princípio de precaução, não previne o risco de contaminação das culturas convencionais e orgânicas e não garante nem a defesa da biodiversidade nem o direito de escolha dos consumidores.
Em Portugal vigorou, até à transposição da Directiva n. 2001/18/CE, a Lei n.º 12/2002, de 16 de Fevereiro que consagrava a suspensão da «libertação deliberada no ambiente de produtos geneticamente modificados». O Decreto-Lei n.º 72/2003, com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei n.º 164/2004, transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n. 2001/18/CE. Faltava à altura regulamentar em matéria de “cláusulas de salvaguarda”, rastreio e monitorização e rotulagem.
O Decreto-Lei n.º 160/2005, de 21 de Setembro, que regulamenta o cultivo de sementes geneticamente modificadas, aprova o cultivo de todas as variedades inscritas no Catálogo Comum de Espécies Agrícolas. A regulamentação nele definida tem vindo a ser criticada em resultado das inadequações que apresenta: É imprevidente por permitir distâncias mínimas de isolamento de culturas OGM que não evitam a contaminação acidental das culturas convencionais ou orgânicas de campos vizinhos.
É falaciosa por contemplar medidas de controlo e acompanhamento só aparentemente se traduzem em controlo e acompanhamento. As medidas previstas não produzem outra avaliação que não seja a avaliação burocrática do cumprimento das regras formais, quando o que faz falta é a possibilidade de monitorizar o impacto das culturas com OGM para o ambiente. Na realidade não existem ainda, como o reconhece o Relatório A6-0032/2007 do Parlamento Europeu, quaisquer mecanismos instalados para detecção e protecção contra contaminações não previstas ou autorizadas.
É ineficaz porque não é suficientemente exaustivo na sequenciação das actividades de controlo e fiscalização ao longo de todo o processo de armazenamento, moagem e transformação de produtos derivados de culturas OGM, o que não só não previne a contaminação de outros cereais como distorce a veracidade da informação prestada aos consumidores finais.
Há por outro lado outras considerações à escala europeia que não podem deixar de ser tomadas em linha de conta:
1 - O estudo produzido pelo Eurobarómetro em 2005 demonstra que 70% dos consumidores na União Europeia têm opinião céptica em relação aos bens alimentares que contenham OGM. Este cepticismo está desde logo legitimado pelo facto de que não existe hoje uma certeza científica sobre as consequências para a saúde pública da entrada na cadeia alimentar de produtos contendo OGM.
Todo o processo de aprovação por parte da Comissão Europeia de sementes OGM é condicionado pelo parecer da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) que se tem confrontado com acusações de falta de transparência por parte de laboratórios e investigadores independentes.
Apesar de a Directiva CEE/2001/18 exigir transparência na determinação dos impactos de OGM para a saúde pública, a EFSA tem feito reserva de confidencialidade em relação a resultados laboratoriais apresentados pela entidade candidata à aprovação, o que impede a validação e comparação por parte da comunidade científica. Deste modo de actuação resulta a impossibilidade de melhorar o conhecimento sobre o resultado do consumo de OGM em alimentos e rações.
Deve notar-se que a aprovação do uso de agroquímicos como os pesticidas obriga à experimentação com pelo menos três espécies de mamíferos diferentes, ao passo que a aprovação de espécies OGM obriga à experimentação exclusivamente com uma espécie.
Isto cria um vazio científico que justifica plenamente que os governos tenham uma atitude de fazer prevalecer o princípio da precaução. Explica também a necessidade de alterar os protocolos de procedimento da EFSA de modo a conferir aos seus relatórios um maior nível de garantia científica.
2 - O Plano Estratégico Nacional para o Desenvolvimento Rural reconhece o crescimento da área agrícola dedicada ao modo de produção integrada e à agricultura biológica e apresenta como objectivo: «reforçar a coerência na política da qualidade alimentar, nomeadamente ao nível dos regimes de qualidade reconhecida. Propõe-se a criação de um sistema de qualidade nacional (regulação e apoio) assente em três pilares: Denominações de Origem; Agricultura Biológica; e Regime/modo de produção intermédio, nomeadamente a partir da produção integrada. Pretende-se assim criar condições para, de forma adequada à realidade de cada sector, promover um instrumento de desenvolvimento adicional, ao mesmo tempo que se clarificam as regras para produtores e consumidores, e ainda para a intervenção pública.»
Toda esta orientação estratégica fica posta em causa quando sabemos que entre 2005 e 2007 a área cultivada com milho geneticamente modificado mais do que quintuplicou: era de 783 há em 2005 e passou a ser de 4.129ha em 2007. Este crescimento representa uma ameaça para a estratégia acima definida uma vez que todo o investimento que os produtores de espécies e castas certificadas ou a aguardar certificação pode ser posto em risco de contaminação, particularmente quando a identificação dos agricultores aderentes à produção de variedades OGM e a localização das respectivas explorações agrícolas não é tornada do conhecimento público como exige o Decreto-Lei n.º 160/2005.
Não existe hoje ainda a possibilidade técnica de controlar a polinização cruzada no meio-ambiente. As correntes de ar, os insectos e as aves transportam os pólenes para distâncias que se estendem muito para além das distâncias de isolamento entre culturas que mesmo uma legislação mais previdente possa prever. É a impossibilidade científica e técnica de monitorizar este processo de polinização cruzada e portanto de contaminação de culturas convencionais e de culturas biológicas que resulta na proibição alemã de cultivo de OGM. É também essa a preocupação que norteia o ministro do ambiente francês. O ministro Jean-Louis Borloo declarou ao jornal Le Monde que: «Acerca dos OGM estamos todos de acordo: Não se pode controlar a disseminação, logo não se pode correr o risco.»
Na altura em que Portugal preside à União Europeia deve dar um sinal claro de ir ao encontro dos apelos que têm vindo a ser dirigidos aos Estados-membros no sentido de garantirem o direito de quem produz culturas convencionais ou biológicas não as ver contaminadas por OGM e o direito dos consumidores a garantidamente poderem optar por produtos alimentares não contaminados por OGM.
Nos termos regimentais e constitucionais, a Assembleia da República, reunida em plenário, resolve recomendar ao Governo que:
Aprove uma moratória sobre o cultivo de sementes que contenham ou sejam constituídas por organismos geneticamente modificados pelo período de três anos, findos os quais deverá ser feita uma reavaliação das garantias se segurança dos produtos alimentares deles resultantes para a saúde humana e sobre a possibilidade técnica de monitorizar e conter a polinização de culturas convencionais e biológicas por pólenes provenientes de culturas com produtos geneticamente modificados.
Já cinco países da UE suspenderam o cultivo das sementes transgénicas. Para quando informações claras sobre este assunto? O caso dos verdes eufémios trouxe uma publicidade negativa aos contestatários dos OGM (haveria realmente alguem por detrás deles? Quem?). O que é verdade é que é necessário saber mais sobre este assunto.
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Ecologia
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Panorama Literário
Correia da Fonseca, na sua coluna no semanário Vida Ribatejana, de 26 de Setembro de 2007, intitulada nesse dia "A Transladação", referindo-se a Aquilino Ribeiro, cuja transladação para o Panteão Nacional é o objecto principal deste texto, escreve a dada altura:
"... Mas soubemos que Aquilino está ausente dos programas escolares portugueses, o que é mais que um escândalo, um crime contra o património cultural do País. É certo que contra o escritor foi há muito lançado o boato que seria de leitura difícil, quase impenetrável. O mesmo consta, também falsamente, de Saramago. Mas é curioso que não se diga o mesmo de outros autores de leitura nada fácil e muitas vezes fastidiosa acerca de quem só se ouvem louvores. Um deles, eterno candidato ao prémio Nobel da Inveja, foi há dias aplaudido em Berlim, por meia dúzia de gatos, e logo a TV se apressou em dar-nos a boa nova. ..."
´
Está claro quem é o candidato ao Prémio Nobel da Inveja. Mas o mais importante é aplaudir o lamento de Correia da Silva sobre a ausência de Aquilino nos programas escolares. Refere também no texto a ausência do escritor das livrarias. Julgo conveniente em todo o caso verificar esta dupla ausência, e depois, dar eco a este lamento em todos os lados.
"... Mas soubemos que Aquilino está ausente dos programas escolares portugueses, o que é mais que um escândalo, um crime contra o património cultural do País. É certo que contra o escritor foi há muito lançado o boato que seria de leitura difícil, quase impenetrável. O mesmo consta, também falsamente, de Saramago. Mas é curioso que não se diga o mesmo de outros autores de leitura nada fácil e muitas vezes fastidiosa acerca de quem só se ouvem louvores. Um deles, eterno candidato ao prémio Nobel da Inveja, foi há dias aplaudido em Berlim, por meia dúzia de gatos, e logo a TV se apressou em dar-nos a boa nova. ..."
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Está claro quem é o candidato ao Prémio Nobel da Inveja. Mas o mais importante é aplaudir o lamento de Correia da Silva sobre a ausência de Aquilino nos programas escolares. Refere também no texto a ausência do escritor das livrarias. Julgo conveniente em todo o caso verificar esta dupla ausência, e depois, dar eco a este lamento em todos os lados.
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Literatura
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Mário de Sá Carneiro - canção de declínio
Um vago tom de opala debelou
Prolixos funerais de luto d'Astro
E pelo espaço, a Oiro se enfolou
O estandarte real - livre, sem mastro
Fantástica bandeira sem suporte,
Incerta, nevoenta, recamada -
A desdobrar-se como a minha Sorte
Predita por ciganos numa estrada ...
Prolixos funerais de luto d'Astro
E pelo espaço, a Oiro se enfolou
O estandarte real - livre, sem mastro
Fantástica bandeira sem suporte,
Incerta, nevoenta, recamada -
A desdobrar-se como a minha Sorte
Predita por ciganos numa estrada ...
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Poesia
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Editorial do Expresso de 5 de Outubro de 2007
Intitula-se este editorial "Estado e crise dos partidos". Diz a certa altura: "Por isso, sempre que se fala da crise dos partidos, do desinteresse da política, da falta de empenho cívico, fala-se, ainda que inconscientemente, do peso do Estado." A seguir relaciona o peso do Estado com o desinteresse dos jovens com competências pelos partidos (infere-se do texto que o editorialista se refere sobretudo ao PS e ao PSD), porque "ali não se trata de sonhos, de ideias, de vida, mas de empregos, de sinecuras, de 'tachos'. O editorialista atribui a crise dos partidos a este desinteresse dos jovens. E acaba a dizer que romper com o círculo formado pelo desinteresse dos jovens com competências pelos partidos - crise dos partidos - máquina do Estado alimentada pela máquina dos partidos - sensação de as ideias não valerem nada, nem o mérito ou o esforço - desinteresse dos jovens com competências, "Romper com esse círculo é fazer a reforma do Estado. Diminuir o seu peso, torná-lo transparente, dotá-lo de uma espinha dorsal profissional (e não de membros do aparelho político que está no poder).
Este raciocínio tem várias falhas. A primeira (e talvez a principal) é que omite que o actual estado de coisas se deve sobretudo à desideologização dos partidos, que quando estão no poder ou lá perto, são máquinas de ganhar eleições, e encaram o Estado como o meio para recompensar as suas clientelas, distribuindo lugares e benesses a quem os apoiou. Assim não há lugar para desenvolver políticas adequadas aos interesses do povo, até porque muitas vezes vão bulir directamente com interesses estabelecidos.
Outra falha é esquecer que os jovens estão a ser formados nas escolas não para desenvolverem políticas de interesse, mas sim para conseguirem bons lugares quando chegaram ao chamado mercado de trabalho. E isto na melhor das hipóteses. Os jovens aprendem na própria escola (ou fora dela) que para conseguirem o emprego de que precisam para sobreviver têm de estar ligados a boas influências, que é claro abundam mais nos partidos do poder ou em outras esferas tradicionais. Para conseguirem o tal emprego convem que sejam bem falantes, mas com ideias pouco heterodoxas.
É interessante contudo a referência à necessidade de o Estado ter uma espinha dorsal profissional. As medidas chamadas de reforma tomadas nos últimos anos apontam no sentido do enfranquecimento das estruturas profissionais existentes no Estado (na realidade resumem-se a reduzir regalias dos funcionários, e preparar o encerramento de serviços e despedimentos em grande escala). Passar por cima disto é, consciente ou inconscientemente, tentar iludir as pessoas. A não ser que o editorialista se queira apresentar como não pertencendo à área do poder, o que é estranho, não só tendo em conta a conhecida conotação do Expresso com o PSD (partido desde a sua fundação muito ligado ao Estado português), como também por uma tecla em que ele, editorialista, toca, e que tem sido insistentemente batida pelos partidos de direita e pelo PS (que muito boa gente também coloca na direita), ao fim e ao cabo, os partidos do poder. É a questão do peso do Estado, que acha ser necessário diminuir. Sem querer entrar agora na discussão profunda do assunto, cumpre dizer que querer diminuir o peso do estado, sem referir os objectivos que se pretende atingir (que não exclusivamente financeiros) com essa redução, os critérios utilizados para cortar nos serviços e as salvaguardas a criar para as populações afectadas, é o que tem sido feito ultimamente pelos governos PS e PSD-CDS. Faz-se o reparo que nada tem sido feito em prol da tal espinha dorsal profissional, a não ser dizer, aberta ou veladamente, aos profissionais dos serviços públicos, que fariam melhor em procurar emprego noutro lado.
Este raciocínio tem várias falhas. A primeira (e talvez a principal) é que omite que o actual estado de coisas se deve sobretudo à desideologização dos partidos, que quando estão no poder ou lá perto, são máquinas de ganhar eleições, e encaram o Estado como o meio para recompensar as suas clientelas, distribuindo lugares e benesses a quem os apoiou. Assim não há lugar para desenvolver políticas adequadas aos interesses do povo, até porque muitas vezes vão bulir directamente com interesses estabelecidos.
Outra falha é esquecer que os jovens estão a ser formados nas escolas não para desenvolverem políticas de interesse, mas sim para conseguirem bons lugares quando chegaram ao chamado mercado de trabalho. E isto na melhor das hipóteses. Os jovens aprendem na própria escola (ou fora dela) que para conseguirem o emprego de que precisam para sobreviver têm de estar ligados a boas influências, que é claro abundam mais nos partidos do poder ou em outras esferas tradicionais. Para conseguirem o tal emprego convem que sejam bem falantes, mas com ideias pouco heterodoxas.
É interessante contudo a referência à necessidade de o Estado ter uma espinha dorsal profissional. As medidas chamadas de reforma tomadas nos últimos anos apontam no sentido do enfranquecimento das estruturas profissionais existentes no Estado (na realidade resumem-se a reduzir regalias dos funcionários, e preparar o encerramento de serviços e despedimentos em grande escala). Passar por cima disto é, consciente ou inconscientemente, tentar iludir as pessoas. A não ser que o editorialista se queira apresentar como não pertencendo à área do poder, o que é estranho, não só tendo em conta a conhecida conotação do Expresso com o PSD (partido desde a sua fundação muito ligado ao Estado português), como também por uma tecla em que ele, editorialista, toca, e que tem sido insistentemente batida pelos partidos de direita e pelo PS (que muito boa gente também coloca na direita), ao fim e ao cabo, os partidos do poder. É a questão do peso do Estado, que acha ser necessário diminuir. Sem querer entrar agora na discussão profunda do assunto, cumpre dizer que querer diminuir o peso do estado, sem referir os objectivos que se pretende atingir (que não exclusivamente financeiros) com essa redução, os critérios utilizados para cortar nos serviços e as salvaguardas a criar para as populações afectadas, é o que tem sido feito ultimamente pelos governos PS e PSD-CDS. Faz-se o reparo que nada tem sido feito em prol da tal espinha dorsal profissional, a não ser dizer, aberta ou veladamente, aos profissionais dos serviços públicos, que fariam melhor em procurar emprego noutro lado.
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Serviços Públicos
domingo, 7 de outubro de 2007
Luís Vaz Camões, Os Lusíadas, Canto V, 37
Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Os McCann e os funcionários públicos portugueses
Hoje, no Jornal de Notícias, veio um texto curto do Manuel António Pina intitulado "Por conta dos McCann". Em poucas palavras resume as expectativas que ficam depois da demissão do coordenador da investigação do caso Maddie. Resume muito bem, e acaba com esta frase "Não custa pois a crer que, um dia destes, a PJ já esteja também a investigar por conta dos McCann e tudo volte finalmente à normalidade".
Este caso devia ser analisado pelos sindicatos, pelos partidos e por todos os que se interessam pela situação em que vivem os funcionários públicos. E mais ainda pelos que se interessam pelo funcionamento dos serviços públicos, e procuram criar condições para que estes possam para atingir os objectivos para que foram criados. Pois o que sucedeu ao Gonçalo Amaral é o que espera todos os funcionários que, em Portugal, levam a sério o seu trabalho e procuram cumprir com o seu serviço. E, neste caso, pelo menos até à data, e partindo de um certo prisma, parece que os chefes ainda não chatearam muito o homem. Foi insultado pelos jornais ingleses, teve uma reacção descontrolada, e apenas foi afastado da coordenação do processo. Ainda não lhe pregaram um processo disciplinar, nem falaram em correr com ele da função pública. Contudo, temo muito que lá chegarão.
O Gonçalo Amaral enfrenta um casal inglês, bem relacionado, bem parecido, bem aconselhado e que parece bastante determinado. É óbvio (muito mais óbvio que as razões que levaram ao afastamento de Gonçalo Amaral do processo) que a Maddie já não está neste mundo. Eu pessoalmente desejo estar enganado. Contudo, basta pensar no dinheiro que tem circulado em todo este processo para chegar ao ponto seguinte: se a pobre Maddie ainda estivesse neste mundo os eventuais raptores, ou alguém por eles, já teriam aparecido a reclamar a recompensa. Era bom que isto não fosse verdade. Contudo, o senso comum mais elementar diz-nos que infelizmente é verdade. E não me debruço sobre o modo como os pais têm procedido.
Já não vamos conseguir trazer a Maddie de volta, estou convicto. Contudo há coisas que é preciso reflectir. Não quero agora falar do papel deplorável da comunicação social, que o Daniel Oliveira já resumiu muito bem. Limito-me a referir que o caso Maddie põe em evidência, muito em evidência, a necessidade urgente de rever a maneira como o papel que os funcionários públicos desempenham, quando procuram cumprir os objectivos dos serviços, é avaliado e acompanhado pelos seus superiores hierárquicos, e pelos serviços em geral. Eu não acredito em sistemas de irresponsabilização. Mas é indispensável haver um mínimo de segurança na acção concreta, e dar a sequência devida aos resultados obtidos.
A "normalidade" que Manuel António Pina refere, muito a propósito, consiste em enterrar os resultados de muito e bom trabalho, sobretudo quando vai contra interesses, na maior parte das vezes não tão claros como no caso desta pobre criança. O combate a essa "normalidade" trará contributos muito mais significativos que todas as chamadas reformas desenvolvidas nos últimos anos sob o pretexto de querer melhorar a administração pública.
Este caso devia ser analisado pelos sindicatos, pelos partidos e por todos os que se interessam pela situação em que vivem os funcionários públicos. E mais ainda pelos que se interessam pelo funcionamento dos serviços públicos, e procuram criar condições para que estes possam para atingir os objectivos para que foram criados. Pois o que sucedeu ao Gonçalo Amaral é o que espera todos os funcionários que, em Portugal, levam a sério o seu trabalho e procuram cumprir com o seu serviço. E, neste caso, pelo menos até à data, e partindo de um certo prisma, parece que os chefes ainda não chatearam muito o homem. Foi insultado pelos jornais ingleses, teve uma reacção descontrolada, e apenas foi afastado da coordenação do processo. Ainda não lhe pregaram um processo disciplinar, nem falaram em correr com ele da função pública. Contudo, temo muito que lá chegarão.
O Gonçalo Amaral enfrenta um casal inglês, bem relacionado, bem parecido, bem aconselhado e que parece bastante determinado. É óbvio (muito mais óbvio que as razões que levaram ao afastamento de Gonçalo Amaral do processo) que a Maddie já não está neste mundo. Eu pessoalmente desejo estar enganado. Contudo, basta pensar no dinheiro que tem circulado em todo este processo para chegar ao ponto seguinte: se a pobre Maddie ainda estivesse neste mundo os eventuais raptores, ou alguém por eles, já teriam aparecido a reclamar a recompensa. Era bom que isto não fosse verdade. Contudo, o senso comum mais elementar diz-nos que infelizmente é verdade. E não me debruço sobre o modo como os pais têm procedido.
Já não vamos conseguir trazer a Maddie de volta, estou convicto. Contudo há coisas que é preciso reflectir. Não quero agora falar do papel deplorável da comunicação social, que o Daniel Oliveira já resumiu muito bem. Limito-me a referir que o caso Maddie põe em evidência, muito em evidência, a necessidade urgente de rever a maneira como o papel que os funcionários públicos desempenham, quando procuram cumprir os objectivos dos serviços, é avaliado e acompanhado pelos seus superiores hierárquicos, e pelos serviços em geral. Eu não acredito em sistemas de irresponsabilização. Mas é indispensável haver um mínimo de segurança na acção concreta, e dar a sequência devida aos resultados obtidos.
A "normalidade" que Manuel António Pina refere, muito a propósito, consiste em enterrar os resultados de muito e bom trabalho, sobretudo quando vai contra interesses, na maior parte das vezes não tão claros como no caso desta pobre criança. O combate a essa "normalidade" trará contributos muito mais significativos que todas as chamadas reformas desenvolvidas nos últimos anos sob o pretexto de querer melhorar a administração pública.
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Serviços Públicos
António Lobo Antunes
No JL da semana passada vem um questionário a Maria Alzira Seixo sobre o novo livro de António Lobo Antunes, O Meu Nome é Legião. Informa Maria Alzira Seixo que se está a ser preparado o Dicionário da Obra de António Lobo Antunes. Vem também um artigo de Agripina Carriço Vieira "Uma voz que diz ... o mal". Procede o JL à pré-publicação de um trecho do livro, e Rodrigues da Silva narra um encontro com ALA, após este ter sido operado. São quatro páginas ao todo. Não está mal.
Não consigo compreender a aceitação que gozam os livros de ALA.
Não consigo compreender a aceitação que gozam os livros de ALA.
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Literatura
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Ilha do Pessegueiro
Ilha do Pessegueiro
Diz quem sabe que se trata de uma duna consolidada. A costa, antigamente devia ir mais longe. Esta paisagem vale realmente ser longamente contemplada.
Parece que a ilha já era ocupada no tempo dos romanos. Devia ser maior do que hoje. Está sem dúvida sujeita a uma intensa erosão pelo mar e pelo vento. Estarão previstos trabalhos para a sua preservação?
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Férias
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Porto Covo
António Lobo Antunes
Estive a ler na Visão da semana passada uma extensa entrevista com o António Lobo Antunes. A certa altura, respondendo a uma pergunta sobre o que tinha sentido ao retomar a escrita do livro que agora vai publicar, se o tinha sentido como seu, diz: "Claro. Ninguém escreve assim. Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde. A doença trouxe-me isso ...".
Fico a pensar se o António Lobo Antunes estará bem. Foi operado a um cancro e tem com certeza de enfrentar uma longa convalescença. Mas é demais falar desta maneira.
Nunca gostei dos livros dele. Tenho lido as crónicas que ele publica ultimamente na Visão e também no El País, e gosto da maior parte. Mas dos romances não gosto. Tentei ler vários e não gostei.
Fico a pensar se o António Lobo Antunes estará bem. Foi operado a um cancro e tem com certeza de enfrentar uma longa convalescença. Mas é demais falar desta maneira.
Nunca gostei dos livros dele. Tenho lido as crónicas que ele publica ultimamente na Visão e também no El País, e gosto da maior parte. Mas dos romances não gosto. Tentei ler vários e não gostei.
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