Hoje, no Jornal de Notícias, veio um texto curto do Manuel António Pina intitulado "Por conta dos McCann". Em poucas palavras resume as expectativas que ficam depois da demissão do coordenador da investigação do caso Maddie. Resume muito bem, e acaba com esta frase "Não custa pois a crer que, um dia destes, a PJ já esteja também a investigar por conta dos McCann e tudo volte finalmente à normalidade".
Este caso devia ser analisado pelos sindicatos, pelos partidos e por todos os que se interessam pela situação em que vivem os funcionários públicos. E mais ainda pelos que se interessam pelo funcionamento dos serviços públicos, e procuram criar condições para que estes possam para atingir os objectivos para que foram criados. Pois o que sucedeu ao Gonçalo Amaral é o que espera todos os funcionários que, em Portugal, levam a sério o seu trabalho e procuram cumprir com o seu serviço. E, neste caso, pelo menos até à data, e partindo de um certo prisma, parece que os chefes ainda não chatearam muito o homem. Foi insultado pelos jornais ingleses, teve uma reacção descontrolada, e apenas foi afastado da coordenação do processo. Ainda não lhe pregaram um processo disciplinar, nem falaram em correr com ele da função pública. Contudo, temo muito que lá chegarão.
O Gonçalo Amaral enfrenta um casal inglês, bem relacionado, bem parecido, bem aconselhado e que parece bastante determinado. É óbvio (muito mais óbvio que as razões que levaram ao afastamento de Gonçalo Amaral do processo) que a Maddie já não está neste mundo. Eu pessoalmente desejo estar enganado. Contudo, basta pensar no dinheiro que tem circulado em todo este processo para chegar ao ponto seguinte: se a pobre Maddie ainda estivesse neste mundo os eventuais raptores, ou alguém por eles, já teriam aparecido a reclamar a recompensa. Era bom que isto não fosse verdade. Contudo, o senso comum mais elementar diz-nos que infelizmente é verdade. E não me debruço sobre o modo como os pais têm procedido.
Já não vamos conseguir trazer a Maddie de volta, estou convicto. Contudo há coisas que é preciso reflectir. Não quero agora falar do papel deplorável da comunicação social, que o Daniel Oliveira já resumiu muito bem. Limito-me a referir que o caso Maddie põe em evidência, muito em evidência, a necessidade urgente de rever a maneira como o papel que os funcionários públicos desempenham, quando procuram cumprir os objectivos dos serviços, é avaliado e acompanhado pelos seus superiores hierárquicos, e pelos serviços em geral. Eu não acredito em sistemas de irresponsabilização. Mas é indispensável haver um mínimo de segurança na acção concreta, e dar a sequência devida aos resultados obtidos.
A "normalidade" que Manuel António Pina refere, muito a propósito, consiste em enterrar os resultados de muito e bom trabalho, sobretudo quando vai contra interesses, na maior parte das vezes não tão claros como no caso desta pobre criança. O combate a essa "normalidade" trará contributos muito mais significativos que todas as chamadas reformas desenvolvidas nos últimos anos sob o pretexto de querer melhorar a administração pública.
PALCO 241 – CONDORITO – CHILE 1949
Há 14 horas
2 comentários:
Apesar de concordar com a perspectiva que apresentaste, questiono-me se realmente haverá uma relação entre o "poder" dos McCann e o afastamento do Gonçalo... Ou se será permissível que um polícia tenha as ditas atitudes que mencionaste e que tenhamos de nos sujeitar a elas passivamente por ele ser um funcionário público. Deixo à tua reflexão, até porque desconheço o que sucedeu e o que terá dito o referido polícia.
O problema é um funcionário (neste caso um polícia)trabalhar duramente com um objectivo, e por causa disso ser insultado. Zanga-se, perde a cabeça e é afastado. Obviamente que não devia ter dito disparates. O problema é que quem o substituir já sabe que vai ter o mesmo tratamento.
Eu referi que ele teve uma reacção descontrolada. E aceito que um funcionário tem de ter sempre um comportamento digno, e não responder a provocações. Mas tem direito ao bom nome. Os jornais ingleses insultaram grosseiramente o Gonçalo Amaral. E isto não pode ser esquecido.
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